domingo, 22 de agosto de 2010

Reflexões acerca dos quadrinhos


De início gostaria de colocar em evidência a minha opinião de que o quadrinhos são uma vanguarda artística, tal como o modernismo, o surrealismo, o parnasianismo, etc. O motivo para tal opinião se baseia em considerar o quadrinho uma simbiose bem sucedida entre a literatura, seja ela fantástica, realista, etc, e a pintura.
Da mesma forma que durante o renascimento a pintura foi patrocinada pela elite mercantil, ou seja a burguesia nascente e pela igreja, hoje o quadrinho, muitas vezes tem como "mecenas" a grande indústria cultural ( de propriedade da mesma burguesia, porém aqui, essa burguesia amadureceu e desenvolveu novos métodos de ação).Logo algumas considerações sobre o porque desse patrocínio deve ser aqui explicitada para facilitar o entendimento do meu ponto de vista.
Entendo a arte como um alegoria para representação da realidade, portanto a arte neste caso a pintura foi amplamente utilizada para representar a realidade de um grupo, por exemplo, era interessante para a igreja católica patrocinar os artistas, numa sociedade como a da Europa medieval onde a maioria da população era analfabeta, a melhor forma de se transmitir a ideologia cristã era através dos afrescos, quadros, esculturas representando momentos específicos da vida de Cristo. Ou seja, a pintura tinha uma função pedagógica.
Pensar hoje nos quadrinhos, nos lança num mundo onde a marvel comics é propriedade da Disney, o maior conglomerado da indústria do entretenimento global, logo seria inocente demais pensar que não existe alguma ideologia por de trás dos personagens. O Capitão América talvez seja o melhor exemplo de tal fato. ( fica para outro texto as implicações ideológicas do Capitão). Porém existem quadrinhos que não se limitam a transmitir uma ideologia dos grupos dominantes, eles criticam o modelo que de certa forma lhes sustenta. Quadrinhos dos super-heróis, quando analisados( neste caso devemos nos colocar como um antropólogo e entender o quadrinho em seu "locus" de origem), é dentro da sociedade americana que o quadrinho mais faz sucesso, da mesma forma que a realidade da turma da Mônica não faria tanto sentindo por exemplo na sociedade indiana, mas existe um certo reconhecimento de alguns detalhes representados nestes quadrinhos, motivado pela questão de que tanto o Brasil como os Estados Unidos são países ocidentais, por isso tem elementos culturais semelhantes, motivados claramente pelo imperialismo cultural e econômico dos Estados Unidos, contudo devemos nos lembrar de que cada país tem hábitos distintos o que confere a cada um sua especificidade.
Finalmente, deixo claro que sim, os heróis representam uma ideologia americana, porém, determinados artistas como Brian K. Vaugham, Bill Waterson, Alan Moore, entre outros, criticaram a forma como seus governos e sua sociedade agiam e viviam. Outro fator importante é reconhecer que historicamente, a formação da sociedade americana direcionou para um caminho o pensamento intelectual, dessa forma, para eles faz mais sentindo criticar seu "american way of life" de uma forma distinta da nossa, que muitas vezes e não erroneamente, se configura tendo como norte nossa profunda decepção quanto as políticas sociais implantadas em nosso país. Vale ressaltar que, nossa sociedade e com isso nossos problemas são frutos do modelo econômico capitalista, vigente na maioria do globo.
Este texto foi uma forma justa e curta ( prometo detalhar mais este assunto mais para frente) de dizer que, as sementes da mudança começam a brotar nos mais diversos lugares do mundo, assumindo como todas as manifestações sociais, formas distintas na Argentina, no Chile, na Índia, África do Sul, França, Israel, Irã, Estados Unidos, Alemanha, China e muitos outros. E ainda que as formas de se criticar se tornaram amplas, filmes, músicas, quadrinhos, livros, blogs, jornais independentes, facilitando assim que essas criticas cheguem ao grande público, incentivando assim a reflexão: O mundo deve ser mesmo assim?

Um comentário:

  1. Dolf, só tenho minhas dúvidas quanto os quadrinhos serem uma vanguarda artística. Acho que os quadrinhos não configuram um movimento cultural típico de vanguarda (como o modernismo, o surrealismo...), mas sim uma manifestação artística diferenciada: a fusão entre "pintura" e "literatura" criaria, portanto, a 9ª arte. E esta 9ª arte nasce com suas preferências e "gostos" e até mesmo nela é possível ultrapassar os limites e criar uma "vanguarda". O Spielgman, por exemplo, quando resolve ultrapassar os limites do quadrinho e desenhar fora da borda pode ser considerado vanguardista. Como os quadrinhos seriam uma vanguarda, portanto, se é possível ser vanguardista dentro da própria vanguarda? Acho mais coerente considerar os quadrinhos como uma arte que possui uma linguagem característica e única, mas que também possui suas e convenções e que estas, se ultrapassadas, configuram uma vanguarda.

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